quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Lua de prata no céu e o brilho dos clichês no chão.

Eu pensei em zilhões de coisas sobre as quais eu poderia escrever nesses últimos dias. Criei posts mentais praticamente completos, mas acabava com preguiça de ligar o notebook para escrever - um ônus da maldita geração de tablets e smartphones tão práticos.

No entanto, eis que estou aqui porque, desde ontem - pelo menos foi ontem que reparei - a lua sorri pra mim. (Eu achei que ela estivesse minguante, mas está crescente. Alguém me ensinou há pouco tempo a diferenciá-las, mas eu não lembro mais como.) Eu sei, é um clichê ambulante, e fico mortificada por ser mais uma dessas menininhas que adora a lua, mas fazer o quê? Desde quando eu tinha esse blog a lua já era uma espécie de alter-ego meu, não consigo evitar. E não é que foi justamente a lua-sempre-ela que me motivou o suficiente pra chegar em casa depois de um dia de trabalho, conversar com minha mãe sobre conflitos familiares, tomar banho, espremer uma espinha, ligar meu notebook velho e ainda vir aqui escrever? Viu só como ela é significativa na minha vida?

O que desencadeou meus devaneios: cara, como eu entendo os românticos (falando de escritores do período literário do Romantismo, não de adolescentes excessivamente emotivos) quando eles projetam o estado de espírito do eu-lírico na natureza. Aliás, não é à toa que tais adolescentes sentimentalíssimos se identifiquem tanto com o Romantismo. É impossível entender o Romantismo a não ser que você já tenha sido um jovem corta-pulsos.

Não é simplesmente óbvio que, se você estiver de bem com a vida, vai ver um sorriso na lua? Não é absolutamente evidente que, se estiver sofrendo por um pé-na-bunda, vai enxergar, em vez de sorriso, um riso sádico - como se sua desilusão fosse uma piada pra ela, que sabe tudo de amor?

E ainda, quando você vai fazer a análise de um poema, os alunos falam "noooossa, aposto que os caras não pensaram em nada disso quando escreveram". Claro que não pensaram! Eles sentiram. Ninguém pensa "vou escrever um poema e descrever elementos da natureza de forma que eles reflitam meu estado de espírito". Ninguém pensa quando está sentindo - seja coisa boa ou ruim. Vejamos:

Pessoa 1: "Quem eu amo não me ama, que porra de lua é essa? Tá olhando o quê? Devia estar nublado! Tá rindo da minha desgraça né, féladaputa! É porque não é com você. Que caralho! Vou comer chocolate e assistir Grey's Anatomy até morrer junto com os últimos protagonistas, com sorte uma avalanche caia na minha cabeça durante a noite."

Pessoa 2: "Cara, olha que lua foda! Por que eu não tinha reparado nela antes? Faz quanto tempo que tá assim? Tá sorrindo comigo, né. Que coincidência! Feliz igual a mim. Fazia tempo que ela não ficava tão linda assim. Olha, nem tem nuvem no céu quase. Acho que amanhã não vai chover. Que bom. Talvez faça céu de algodão."

E isso, meus amigos, é a vida. Projeção do estado de espírito na natureza. Você é o que você pensa, você é o que você sente, e geralmente você pensa o que você sente, os românticos (escritores do século XIX, não jovens emo) já sabiam disso.

Não tem um poeta que disse "tudo depende dos olhos de quem vê"?
Ou esse é só mais um clichê?

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